sexta-feira, dezembro 17

Nem eu diria melhor.

"(...) primeiro, parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que aparece onde dantes estava a intimidade. E pronto, está tudo estragado. Acaba-se a festa, o delírio, o fogo de artifício, o sabor da novidade, e onde vamos parar? Ao vazio. Ao abismo. Ao grande buraco negro dessa coisa horrível e inevitável que se chama depois, depois de apagar a chama. E esta é a condição humana, doa a quem doer. Ou, então, a ironia da vida separa os amantes para sempre e o fim do amor é o mito do amor eterno. Pedro e Inês foram sepultados de frente um para o outro, para que se pudessem ver no dia da ressurreição. Romeu e Julieta nunca mais se separaram no imaginário ocidental. Dante viveu para sempre ao lado de Beatriz, Penélope recuperou o seu guerreiro depois de vinte anos de espera. O amor, esse mistério que antecede a vida e sobrevive à morte, reina como um tirano por cima de todas as coisas, mas poucos são os que o conseguem agarrar. É mais difícil de alcançar que o Olimpo, porque não está no céu nem na terra, paira como uma substância invisível, mais leve que o ar, mais profundo que a água dos oceanos. Talvez seja uma invenção do homem para fugir à morte. Ou talvez tenha outro nome na Bioquímica. Mas não podemos viver sem ele e, quando o perdemos, achamos que nunca mais o vamos conseguir encontrar. "
Pois é, é mesmo isto. Sem tirar nem pôr. 



Sem comentários: